COMER OU NÃO COMER? EIS A QUESTÃO…

Para o Ayurveda, existem regras básicas no que diz respeito à nutrição. Contudo, todas têm de ser analisadas detalhadamente em consulta através de um diagnóstico porque cada caso é um caso e somos todos muito diferentes, todos temos contextos de vida diferentes, todos precisamos de uma alimentação que se adeque às nossas necessidades.

Independentemente do que vais ler de seguida, é importante conheceres-te a 100% e tomar as medidas necessárias para tal. Caso precises de ajuda para te equilibrares, agenda uma consulta ayurvédica.


OS MITOS

Desde crianças, sempre ouvimos coisas que fomos enraizando e que muitas vezes podem ter afetado a nossa saúde sem nos termos apercebido, como os exemplos abaixo:

  1. Não tens fome, mas tens de comer
  2. Gordura é formosura
  3. Magreza é sinal de fraqueza
  4. Só mais uma colher pela mãe
  5. Estás grávida, tens de comer por dois
  6. Não gostas, mas tens de comer porque faz bem
  7. Estás doente, tens de comer para não ficares fraco/a

Passo a explicar detalhadamente o motivo de os pontos acima terem outros conceitos dentro do olhar Ayurvédico.


Não tens fome, mas tens de comer

Quantas vezes ouviste isto em criança: “não tens fome mas tens de comer”?

Existe uma regra básica no Ayurveda: come apenas quando tiveres forme! Já percebemos que o organismo é super inteligente e nos vai dando sinais.

Existem vários motivos para não termos fome: excesso de toxinas no corpo, digestão anterior ainda a ser feita, sono, metabolismo lento, entre outros.

Se não tens fome, não forces.


Gordura é formosura

Excesso de peso nunca foi formosura, muito pelo contrário. Qualquer excesso no corpo, no organismo ou na vida é motivo para se fazer uma introspeção.

Falo de excesso de peso e não de pessoas mais robustas, cuja constituição tem incidência em Kapha, por exemplo. Este dosha tem como base o elemento Terra e é normal que pessoas desta constituição a nível de genética (prakruti) sejam mais largas de anca, tenham ossos fortes e pesados, mais curvas e robustez.

O que é completamente diferente ter-se um desequilíbrio em Kapha no momento atual (vikruti), ou seja, não faz parte da constituição genética da pessoa mas por qualquer motivo no momento presente está com excesso de peso. E é a isto que me refiro.


Magreza é sinal de fraqueza

O mesmo se passa com pessoas magras.

Quando é excesso de magreza e sabemos que se trata de um desequilíbrio, obviamente teremos de analisar e seguir uma rotina ayurvédica específica para aumentar o peso, adequada à pessoa em questão.

Mas se a nível de genética (prakruti) a pessoa já tem aquela constituição e outros indicadores nos garantem que tudo está a funcionar corretamente e de forma equilibrada, então está tudo certo.

Só mais uma colher pela mãe

As crianças tendem a sofrer um pouco relativamente à parte da alimentação porque os cuidadores têm sempre receio que fiquem desnutridas, abaixo do percentil ou com falta de vitaminas e nutrientes.

Quando uma criança diz que não tem mais fome ou por norma come pouco, os pais entram em stress.

A realidade é que as crianças têm a sua identidade e as suas vontades, tal como um adulto. E se nós adultos paramos livremente de comer quando não temos fome ou comemos pouco num determinado dia (porque dormimos mal ou estamos mais cansados, tristes ou enjoados), porque não pode acontecer o mesmo com uma criança?

Claro que cada caso é um caso, mais uma vez refiro, mas não dá que pensar?

Estás grávida, tens de comer por dois

A gravidez é possivelmente dos temas mais polémicos relativamente à alimentação: existe um novo ser a alimentar-se.

Quantas vezes já ouvimos que uma grávida deve alimentar-se por dois? Agora vamos imaginar uma grávida de gémeos e trigémeos e por aí… Deverá alimentar-se por 3 e por 4 e por 5?

Basicamente o conceito é o mesmo: se tudo estiver em equilíbrio com a gestante, a mesma deverá comer quando tem fome e nunca deve forçar comer quando não tem fome. Ouvir o corpo é o segredo.

Não gostas, mas tens de comer porque faz bem

Quantas vezes ouviste em criança: “não gostas mas tens de comer porque faz bem”? E mesmo em adulto/a, quantas vezes te obrigaste a comer determinado alimento porque consideras que “faz bem”?

O corpo é genial e dá-nos todos os sinais possíveis para que tenhamos bem-estar e equilíbrio. Se não gostas de determinado alimento e já tentaste várias vezes: não insistas! Há imensos alimentos com as mesmas propriedades ou muito idênticas.

Se comes algo e tens quase sempre vontade de vomitar ou ficas maldisposto/a depois, com azia ou refluxo gástrico, digestão lenta ou náuseas significa que o corpo está a recusar aquilo que ingeriste.

Determinado alimento pode ser o adequado à alimentação de alguém e não ser para ti.

Estás doente, tens de comer para não ficares fraco/a

Normalmente quando estamos débeis, ficamos mais desacelerados, com menos energia e por sua vez com menos fome.

Tinha a ideia que possivelmente quase toda a gente leiga no assunto tem: se estamos doentes, temos de reforçar o organismo com mais alimentos saudáveis e ricos em vitaminas para recuperar… Mas assim que comecei a estudar Ayurveda, entendi perfeitamente este ponto e mudei a minha opinião (desta vez fundamentada).

Quando estamos doentes, o corpo está em esforço para tentar uma recuperação e voltar ao seu funcionamento normal. A digestão é dos processos que mais energia nos consome. Ora, se vamos comer, isto significa que o corpo tem de dividir a sua atenção e a sua energia em dois processos que estão a ocorrer.

Se não tens fome quando estás doente, não te martirizes nem insistas em comer. Opta por chás, sopas leves sem muitos legumes (miso, por exemplo) e algo que te deixe saciado/a de forma leve e reconfortante. Não precisamos de estar sempre a comer ou de comer de 2 em 2 horas para que o corpo tenha um bom e correto desempenho.

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A informação que consta deste artigo, apesar de ter sido elaborada com base em artigos e informações fidedignas e acreditadas, não contém uma análise exaustiva de todos os pontos referenciados, pelo que, da mesma forma, não substitui uma consulta com um terapeuta ou médico especializado.

Fotografias – Pexels

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